sexta-feira, 20 de maio de 2011

Acordei com uma dor na nuca. Dor fina, chata, sabia que ia me acompanhar no decorrer das horas. Não tomei remédio e apenas deitei, creio que o cansaço me havia consumido. O corpo teoricamente descansa quando a gente deita, mas a mente fica a voar a pensar na conta de luz, em Mateus que deixou uma pilha de relatórios pra eu ler, mais noites no escritório. Esqueci de regar as plantas. Deixei passar tanta coisa. Será que se eu tivesse escolhido o Januário eu estaria com esse vazio de agora, esse vazio que nada preenche? Que nada. É desde lá que esse nada me acompanha. É, essa ausência.
A gente não vive quem a gente é. A gente sempre vive uma “vida esperada”. Eu to falando de viver em si. Lembro-me de Dona Avelina, ela dizia: “Se eu fosse eu, minha filha, seria uma bailarina de circo e saía por aí pelo mundo divertindo esse povo miseravelmente alegre do sertão, mas não posso. Viver minha “vida esperada” me ocupou. Sento-me aqui detrás desse balcão do correio e vejo todos os dias cartas e pacotes entrando e saindo.” Me dava seu sorriso resignado e tornava a baixar a cabeça para seus afazeres. Entendo ela. Fiz tudo que eu queria ter feito, que me ajudasse a me destacar nessa minha “vida esperada”, tenho os amores mais bonitos, as melhores coisas que posso comprar, eu tenho, mesmo não sendo rica. Não, longe disso. Adoro minha casa, minha pele está até mais bonita, sabia? Mas ainda eu não sou eu. Abandonei aquele sonho tímido em prol de um propósito maior: me encaixar no padrão, segui o sistema. Se eu fosse eu faria aulas de gastronomia, fotografia, psicologia e viajaria. Ah, como eu viajaria.
Droga. Que diabo de som fino é esse? Despertador, claro, tenho que organizar minhas palestras, fazer o café, será que vai chover?

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