quinta-feira, 29 de julho de 2010

Li certa vez num orkut alheio: “GOSTO da lua cheia e da tonalidade do céu dos fins de tarde: cor da vida.” Concordo com quem disse.
Compulsiva: leio tudo  o que me interessa e quase tudo que não preciso saber para viver. Aprender que amor próprio é o que nos rege é fácil, praticar o amor próprio diariamente, para mim, é o que complica.
Inconstante, hoje acho que estou independente; amanhã choro por não ter um espaço pra respirar.
Impulsiva, como todo ariano.
Indeciso? Não sei, talvez! Creio que possa ser.
Simplicidade, agradeça pelo belo dia de sol que nos agraciou hoje. Vá ver o mar. Observe a formação da onda lá longe e acompanhe ela até se perder na beirinha. Isso é sopro de vida. Por falar em sopro, a brisa vai te acalmar, enquanto você estiver sentado na areia tomando água de coco.
 É uma pena, rotina não nos deixa ser sempre assim.
Autoritária e egoísta: isto está cravado em mim, a final de contas, nem só de coisas boas somos feitos. Yng Yang.
Então, quando nenhum pensamento tranqüilo estiver na sua mente, você irá se sentir só, e irá se perguntar por quê? Então você escreverá sobre isso, ou você sairá com os amigos, ou se trancará num banheiro para chorar. Mas logo você lembra que amanhã é outro dia, e que está sofrendo por uma coisa que não é pra ser sofrida. Aí você percebe que você não agradeceu por tudo de bom que você tem e aquilo de bom que ainda virá. Aí você pode fazer como eu: ou corre pra ver o mar, ou faz exatamente o que estou fazendo agora: escreve sobre tudo que te constitui e que te rodeia.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O lado ruim das coisas boas: Nem tudo é tão bom quanto parece...

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Para M.


A janela estava aberta e com surpresa percebi a tímida brisa, vindo tocar meu rosto. Tão rápida. Fugaz. De imediato, me senti viva. Foi exatamente naquele momento, por aqueles olhares que me atingiam como flechadas tênues de um bom fervor de vida. Sopro de vida.
Comecei a gostar da tua presença mesmo de longe. Te olhando sempre com um olhar inquisidor. Como posso te agradecer por me fazer acordar de um ciclo do qual estava presa, sinceramente não sei. Foi o meu despertar, o meu “abrir de olhos” que sempre levarei em mim. Lembrarei dos seus olhos atentos me olhando, do meu tímido fitar, curiosa por querer saber sobre todos os detalhes do mundo que te rodeava. Dessa sua “filosofia de vida”. Você me arrancou sorrisos e sensações esquecidas. Agradeço sim! Ao universo que te fez entrar na minha vida no momento certo, exatamente como uma brisa que sopra, quando mais precisamos do seu frescor.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Felizes são aqueles que não vêem fronteiras para se expressar...

A vida da gente é uma eterna canção por compor... Fui - Vander Lee

Sentimento do mar Ana Amélia


Foto tirada de celular... Porto da Barra -  Bahia

Sentimento do mar Rubem Braga

Passo pela padaria miserável e vejo se já tem pão fresco. As jogadas e os camarões estão aqui. Está aqui a garrafa de cachaça. Você vai mesmo? Pensei
que fosse brincadeira sua. Arranje um chapéu de palha. Hoje vai fazer sol
quente. Andamos na madrugada escura. Vamos calados, com os pés rangindo na areia. Venha por aqui, aí tem espinhos. Os mosquitos do mangue estão
dormindo. Venha. Arrasto a canoa para dentro da água. A água está fria. Ainda e quase noite... O remo está úmido de sereno, sujo de areia. Sente ali na proa, virada para mim. Olhe a água suja no fundo da canoa. Ponha os pés em cima da porta. Eu estou dentro d’água até os joelhos, empurro a canoa e salto para dentro. Uma espumarada de onda fria bate na minha cara. Remo depressa, por causa da arrebentação. Fique sentada, não tenha medo não. Firme aí. Segure dos lados. Não se mexa! Firme! Ooooi.. Quase! Outra onda dá um balanço forte e
joga um pouco de água dentro do barco. Estou remando em pé, curvado para a direita, com esforço. A outra onda passa mansa, mansa, a proa bate n’água
e avança. O remo esta frio nas minhas mãos. Eu o mergulhei dentro d’água para limpar a areia. A água que escorre molha as mangas de meu paletó. 0 mar
está muito calmo. Esse ventinho que está vindo e passando em seus cabelos é o vento da terra. O terral vem de longe, lá do meio da terra, dos matos dormentes atrás dos morros. Vem da terra escura para o mar escuro. Nós iremos com ele.
Levantei a vela encardida. O meu leme está quebrado, mas tenho o remo. Vamos um pouco beirando a praia para o norte. Agora o ventinho nos pega. A vela treme feito mulher beijada. Fica túmida feito mulher beijada. As vezes, a força do vento diminui um pouco, e ela bambela, amolece, feito mulher possuída. Olhe lá a sua casa. Não está vendo, não? O pão está bom? Se você comer todo agora, vai ficar
com fome lá fora. Me dá essa cuia, vou tirar a água da canoa. Raspo o fundo do barco, onde o cheiro forte e enjoado da maresia, esse cheiro que eu amo,
embebeu para sempre o lenho. Viro um pouco a vela, sento, e passo o remo para a esquerda. O leme, assim como está, ajuda. Vamos cortando a água maciamente... A água está cinza, escura, pesada, como óleo. O balanceio nos leva. A praia pobre ficou lá longe, com luzinhas piscando. Estamos quietos, e ela rói o pão olhando a água. A água fala alguma coisa ao batelão, lambendo seu corpo, numa ternura de velha amiga com velho amigo. Ela está quase deitada. O frio do fim da noite, o ar cheio de água, com um cheiro úmido, me faz abrir as narinas, apaga o meu sono. Na penumbra imensa seus cabelos parecem úmidos sobre a testa morena. Nós avançamos no bamboleio manso, conversando com
moleza. A sua voz me vem, atravessando o vento fraco, entre a voz da água na beira da canoa. Seu corpo, na proa, sobe e desce no horizonte... Ela está virada para mim. Contempla lá atrás a terra que vai morrendo no escuro, que é apenas um vago debrum sujo além da água. Eu olho a água. Tenho vontade de beijar a água. Beijar de leve a flor salgada da água, depois beijar com lábios úmidos,
com pureza, de manso, aquela boca sob os olhos negros, sob a testa morena. Mas isso é apenas um desejo à-toa, sem força nenhuma, um desejo que sabe
que veio à toa e que vai à toa. Acendo um cigarro e pergunto - Você quer fumar?
A minha amiga não fuma, e ri. Ri muito, como se eu tivesse ficado triste muito tempo e de repente tivesse dito uma coisa engraçadíssima. Ri... Seu riso quebra, parte, destrói o encanto molengo da madrugada. L como se estivéssemos em terra e, por exemplo, fizesse sol, em uma tarde comum, ou nós andássemos depressa pela rua. Seu riso rasga a calma do mar escuro, como se o mar não estivesse soluçando sob a canoa. Uma claridade pastosa, débil, vem lá do fundo
sobre o qual o seu corpo deitado se balança. E nós conversamos animadamente, como se estivéssemos em um bonde, fôssemos a um cinema. Não estamos
sozinhos no mundo, em uma canoa no meio do mar. A nossa vida não é apenas esta velha canoa, esta vela encardida e pequena, este remo úmido. Somos gente
da terra, sem nenhuma evasão nem mistério. Conversamos. Eu conto histórias do mar, como se fosse um velho pescador. Ela me interrompe para contar uma coisa - uma coisa terrena, acontecida na terra, dentro de uma casa na terra, com lâmpada elétrica, onde os homens se atormentam. E eu ouço, me interesso. Desci a vela. Vou remando, remando tão bestamente como se os músculos de quem rema não tivessem alma, como se a água rompida pelo remo não tivesse músculos e alma, como se eu jamais tivesse sentido pulsar, nas minhas velas rolando ondas, a vertigem calma do mar. Remo, não há mais encanto nenhum. Tudo vai clareando no ar e na água. Remarei, pescarei. Pedirei a ela que se levante para que eu possa descer a pedra pela proa, até sentir bater na lama. Pescarei. Se ela estiver cansada, se ela achar cacete, voltarei para terra
conversando. Ela achará cacete. Ela é da terra, está viciada pela terra, e eu não poderia lhe ensinar meu sentimento. Meu sentimento é inútil, eu converso conversas da terra com essa filha da terra. Eu pescarei e assobiarei um samba. Eu remarei para a terra logo que ela estiver cansada do mar.
Janeiro 1935

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Dia da Marinha - Rubem Braga

Estamos, no fim de um dia de trabalho, estreitamente ligados e profusamente amontoados, oito desconhecidos. Hoje é o Dia da Marinha; mas nem por isso apareceu uma galera na porta do escritório, nem eu pude pegar na esquina um bergantim; de maneira que viajamos com raiva e melancolia no velho autolotação. Sentimos essa nossa respiração, os músculos mútuos; qualquer movimento que um faça aqui dentro repercute no outro.
Estou cerradamente imóvel; uma senhora de olhos azuis, que está acompanhada de um rapaz moreno, sentou-se ao meu lado. Com esse respeito que uma bela desconhecida inspira, fiquei ali agarrado ao meu canto, as pernas imprensadas pela cadeirinha da frente. Falavam em voz baixa, ela com uma espécie de paciência irritada, ele num tom surdo, meio queixoso, meio rude.
Não sei que espécie de pudor me impede de contar a conversa: como que me entristeceria ser indiscreto sobre aqueles dois desconhecidos. Era uma conversa de namorados, talvez de amantes. Ele a recriminava por alguma coisa, e ela respondia. Estavam os dois tristes, numa dessas crises de vazio melancólico que às vezes assalta os amantes urbanos.
- Porque você não se interessou...
- Mas não foi, você sabe que não foi. Ele tinha chegado...
As frases eram assim: e aquelas frases não contavam precisamente nada, mas diziam tudo.


Uma dessas histórias vulgares, com dificuldade de chave de apartamento, com hora de dentista, com indiscrições e ciúmes, telefone ocupado, cautelas infinitas e golpes súbitos de loucura ¬– um desses casos tão iguais a todos e tão especialmente particulares. Fiquei comovido, meio triste, e um pouco aborrecido de estar incomodando o casal com minha presença forçada.
Foi então que ele disse alguma coisa que não ouvi, e ela deixou escapar uma exclamação:
- Ora bolas!
Os dois ficaram em silêncio, um silêncio em que aquela exclamação se eternizava, antipática e vulgar.
Porque o silêncio não tem substância; ele é vazio como grande redoma de vidro, e o que vive nele é a última palavra ou o último gesto. E aquele “ora bolas” continuava no silêncio, como se fosse uma desagradável mosca zumbindo dentro da redoma- aquela redoma em que o homem de cara morena e a senhora de olhos azuis deviam ter vivido minutos de silêncio infinito e suave.

Mas de repente ele viu alguma coisa; e nós todos voltamos a cabeça para ver . Na baía escura estava toda a esquadra tremendo de luzes. Vinte ou trinta ou quarenta navios de guerra grandes e pequenos estavam ali imóveis, faiscantes, as proas apontadas para o mar alto, cm fileiras de luzes descendo dos mastros para a popa e a proa, dialogando com sinais luminosos, ferindo o céu e o dorso das montanhas com o jato cruzado de seus projetores de ouro.
- Que beleza!
Ela disse com uma veemência infantil- e nossos olhos todos eram olhos deslumbrados de criança.
- Mas que bonito!
Era a voz do homem.
E depois que um ônibus qualquer nos trancou a vista, e a lotação virou à direita, eles ficaram calados. Mas agora era um doce silêncio, e senti que ela encostava mais nele o seu ombro esquerdo – e lentamente ele lhe segurou a mão. Nosso auto voava entre outros autos negros e luzidios, num galope veloz de motores surdos em demanda ao sul. E o silêncio deles era cheio de beleza. Que pode haver mais belo que uma esquadra no mar? Diante da esquadra faiscante de luzes, que importam o telefone em comunicação, a espera infeliz no fundo do bar, e toda pequena mortificação ansiosa, ó inquietos amantes urbanos?

... A crônica continua...
mas deixei em negrito a parte que me interessa.
Crônica tirada do livro:
200 Crônicas escolhidas - Rubem Braga
Editora: Record